24 setembro, 2008

Uma compra de valores


Já cheira a folhas caídas no chão. Os casacos e as botas saíram do armário. Os dias estão curtíssimos, para o Setembro que conhece. E ocorre-lhe: ainda não tinha passado um Setembro inteiro aqui.

Quanto mais tempo passa, maior se torna a relação com as raízes. E mais raízes começa a conseguir criar neste novo solo. Se pudesse, transportaria metade do que há aqui para lá, e metade de lá para aqui. As diferenças são assustadoramente grandes. E não passa tanto pela quantidade de precipitação, como todos rotulam. Mais pela História, pela forma como a educação se forma e pela relação que se tem, forçosa ou instintivamente, com as pessoas.

E por isso traria o sorriso do sul, mas a sinceridade do norte. Com a franqueza do norte, mas a delicadeza do sul.
Traria as mesas cheias, de casa, para os horários que aqui fazem render o tempo.
Traria as cores, as roupas, as malas no lugar das mochilas. Mas vestiria tudo isso com discrição e uma auto-confiança que aqui se encontra por dentro e não por fora.
Levaria a pontualidade, o rendimento, a organização extrema, a vontade de ser capaz e a importância do trabalho - para colocar tudo numa caixa de flexibilidade, bem lá no sul. Para poder dizer "não me apetece" sem ser etiquetada de preguiçosa.

Trá-los-ia todos, de lá para aqui, para verem como é simples viver e ser eficaz ao mesmo tempo. Mas também os levaria nem que fosse por uma hora lá para baixo, para reverem as suas prioridades.

Traria sem dúvida a espontaneidade, o momento vivido quando ele ocorre e não quando foi planeado.

Levaria a qualidade de vida e o reconhecimento. Sem dúvida, levaria o civismo e o respeito - pelas outras cores de pele, pelo trabalho dos outros, pelas idades inferiores, pelos recém-licenciados.

Traria a saudade, a nostalgia e a melancolia para junto deste enorme interesse por outras culturas, como lição de um país que sofreu na pele as consequências da discriminação.
Procuraria, algures, a solução para o balanço extremo em que aterrou e de onde não sabe sair, pois todos os dias se sente mais parte dos dois sítios e de nenhum.

E levaria a família sempre consigo. Com animais, almofada, ruídos, cheiros, refeições e banhos incluídos. Em qualquer estação do ano, para qualquer canto do mundo.


4 comentários:

Anónimo disse...

que saudades do leitinho branco com palhinha com açúcar sem mexer....e agora, alguns.., poucos anos depois.., ler estes sentimentos que nos põem novamente de lágrima ao canto do olho....Q ue bom sentir assim saudades!...e sentirmo-nos assim sempre tão perto!...

Unknown disse...

O SABER estar perto LALONGE

PARTILHAR
SENTIR
SOFRER
LUTAR
ACREDITAR
OUVIR
VER
AMAR

ESCREVER tão perto......,
LALONGE

ARN disse...

é, sem dúvida, um Setembro diferente.

ATPires disse...

O futuro é feito hoje, através de pessoas com visão de futuro, sem esquecer o presente e principalmente as origens fisicas alicerçadas numa forte, marcante e evidente estrutura moral, que mesmo longe se manifesta.
A implementação diária destes valores, emanados duns adultos 23 anos, só podem fazer-nos acreditar num futuro melhor.

FORÇA, pois neste mundo global, tudo está cada vez mais perto, devendo a SAUDADE tão Portuguesa ser utilizada como elo de ligação entre os Povos, para a colaboração na construção de um Mundo melhor e mais SOLIDÁRIO.

Mais uma vez, MUITA FORÇA

TP